Cresce o interesse da imprensa internacional pelo filme Shades of truth. A diretora e atriz, Liana Marabini, fala sobre a ideia, responde as críticas e esclarece dúvidas
Na última segunda-feira, 2 de março, foi apresentado em Roma o filme “Shades of truth” dedicado ao Papa Pio XII, escrito e dirigido por Liana Marabini, produzido pela Condor Pictures. Um filme com um elenco excepcional com a participação de Christopher Lambert, Marie-Christine Barrault, Giancarlo Giannini, Remo Girone, Gedeon Burkhard, David Wall, que será exibido fora de competição no Festival de Cannes e durante dez dias no Encontro Mundial das Famílias, previsto para Setembro de 2015, na Filadélfia.
O filme conta a história de um jornalista que foi contratado para realizar uma investigação sobre o Papa Pacelli. Inicialmente cético e crítico, o homem encontra várias testemunhas que colocam em crise a sua tese preconcebida sobre o Pontífice. Ao longo de vários encontros com pessoas e filhos de sobreviventes do Holocausto o protagonista descobre, de fato, que Pio XII não foi um Papa medroso que não conseguiu opor-se a Hitler, mas que, em segredo, conseguiu salvar centenas de milhares de hebreus da Shoah. Um homem forte, portanto, que provocou reações ferozes, diversas críticas e polêmicas, mas também grande apreço. Justamente por isso e também pelo valor efetivo do filme, ZENIT falou com a diretora e atriz Liana Marabini.
ZENIT: Depois da projeção da première absoluta, tem havido várias reações a seu filme. Algumas muito positivas, outras neutras e algumas muito negativas. Você esperava isso?
Liana Marabini: Sim, eu esperava. É um assunto muito controverso e é normal que as reações sejam de todos os tipos. Ninguém é tão ingênuo a ponto de pensar que as opiniões fossem unânimes. O objetivo do filme é o de trazer à tona Pio XII e as injustiças que sofreu e continua sofrendo, mostrando provas documentadas: não provas inéditas, mas uma seleção daquelas que já existem e existem muitas. O filme foi pensado não como um monumento histórico, mas como uma janela aberta sobre uma que questão controversa, que deixa espaço à curiosidade para aprofundar o personagem. Pio XII é a personalidade mais incompreendida do século XX, então é bom tentar explicar um pouco as coisas, especialmente o motivo do seu silêncio. Não precisa enterrar o Papa Pacelli debaixo da poeira do esquecimento que às vezes a História acumula sobre coisas e pessoas.
ZENIT: É surpreendente ver a crítica de alguns jornais católicos. Qual é a sua opinião sobre isso?
Liana Marabini: Eu espera muitas críticas: todas são bem-vindas porque fazem falar sobre o filme e implicitamente de Pio XII. Mas, francamente, eu não esperava tanto ódio de certos jornais católicos. Tomo nota e respeito a opinião de todos, mesmo quando são contra o meu trabalho. Certas críticas são infundadas, outras bem fundamentadas, como aquela que diz: “poderia fazer melhor”. Estou de acordo, tudo é possível fazer melhor, um filem e até mesmo um jornal. Estamos aqui para melhorar. À crítica que acusa o filme de sua simplicidade, respondo que é um filme para todos, não para os historiadores e não para uma elite. É uma mensagem, não um ensaio. Os historiadores não devem desprezar aqueles que não são historiadores e as massas não são; Jesus amava as massas.
Há também duas críticas “pouco católicas” que, porém, foram feitas por um jornal católico e isso me admira: me repreendem que em uma cena do filme se fala a favor do celibato sacerdotal, e que, em outra cena, a comunhão é distribuída na boca e não na mão. À primeira respondo que o celibato sacerdotal deve ser apoiado com todos os meios, porque é um valor não negociável: em breve publicarei com a minha editora um livro sobre o tema, onde se reúnem escritos de grandes autores contemporâneos e homens notáveis de Igreja. O livro será presenteado a todos os seminários. À segunda crítica digo que todos nós, sacerdotes e leigos, da orientação litúrgica que for, “modernistas” ou “tradicionalistas”, devemos defender a totalidade dos ritos aceitos pela Igreja católica, sejam eles pós ou pré conciliares, ambrosianos ou o que for.
Na Igreja hoje já existe, infelizmente, uma fissura causada pela liturgia: não devemos aumentá-la com críticas indevidas, porque isso significa que nós criticamos a própria Igreja e seus preceitos aceitos e codificados. E, neste caso, para a cena “condenada”: nos tempos de Pio XII a comunhão não era distribuída na mão, por isso, me pareceu óbvio colocar aquela cena, para prestar outra homenagem ao Papa Pacelli, que vivia naquela época. Mas, os comentários produziriam mais controvérsia. Nós trabalhamos para a Igreja e que não faz sentido atacar-nos uns aos outros: deixemos essa tarefa para os inimigos da Igreja. E a abertura da totalidade dos Arquivos, que eu espero que aconteça em um futuro próximo, me dará razão. Eu não alimentarei estes conflitos respondendo às provocações: cada um é livre para amar ou não o meu filme.
ZENIT: Por que você decidiu enfrentar uma questão tão espinhosa e que suscita ainda tantas polêmicas com um filme com tonalidade ‘positiva’?
Liana Marabini: Eu tinha em mente há muito tempo o desejo de fazer algo por Pio XII: acho que seja o dever de todos os católicos. Ele é um de nós, acusado falsamente, não acreditado, não reconhecido, a sua memória é pisoteada e suja a cada dia, às vezes ouvimos dizer o apelativo o “Papa de Hitler”. O nosso dever como católicos é de amar o próximo até fazê-lo mudar o coração. Pensei em um filme porque é um modo imediato e acessível para todos. Criei uma história, para torná-lo mais suave. Uma vez que a intenção é mostrar noções históricas precisas, com datas e fatos, se isso não tivesse sido tecido com uma história de vida teria ficado bastante chato. O filme foi pensado também para as escolas. Em Setembro será projetado em 1.200 escolas da Itália e no estrangeiro.
ZENIT: Como é a distribuição? A cobertura da mídia em muitas partes do mundo, de alguma forma, favoreceu a propagação do filme?
Liana Marabini: Na verdade “os artigos críticos publicados em mais partes do mundo” são a citação daqueles que saíram nos dois jornais católicos citados acima. Mas, tenho que agradecê-lo. Nunca tinha vendido tão rapidamente um filme. Depois da publicação dos polêmicos artigos, as vendas cresceram de forma impressionante. Em três dias, antes da première assinados oito contratos que já cobrem o custo do filme. Até o final do mês serão concluídos contratos de venda com outros 21 países (entre os quais China e a índia). É um resultado impressionante para um filme dessas dimensões, ainda mais com argumento católico.
ZENIT: Você é a diretora, a produtora, a alma desse filme. Está satisfeita com o trabalho realizado?
Liana Marabini: Sim, estou feliz. Trabalho nisso há vários anos, começando com a documentação, que durou mais de cinco anos, depois a preparação do filme por um ano, a realização, a pós-produção e a promoção, mais um ano. O fato de que se fale muito é bom. Temos que continuar a levar as provas das ações de Pio XII a favor dos hebreus, enquanto for necessário, temos de manter o interesse vivo. Como católicos, não devemos ter medo dos ataques e das críticas. Não devemos alimentar as polêmicas, que causam separação. O medo e a separação são ações do demônio e não temos que cair nisso. Temos que seguir em frente e apoiar, com todos os meios, a memória daqueles que tornaram a Igreja ainda maior. E Pio XII foi um.
fonte: Zenit
