O último evento anunciado no Pentecostes é a participação na salvação que se resume em penitência, batismo, remissão dos pecados e dom do Espírito Santo, pois nele está a história de Jesus, dos Apóstolos e da assembleia.
Prosseguindo nossa catequese sobre Pentecostes, tema iniciado no artigo anterior, agora veremos como a Igreja nos coloca no centro deste evento (At, 2,37-41) que encerra o tempo pascal. O milagre do Pentecostes engloba convite, conversão, batismo como resposta à messianidade de Jesus. Para melhor compreensão, gostaria de convidar meus leitores a acompanharem com a Sagrada Escritura, conferindo os textos que citaremos.
UMA REAÇÃO INCONTIDA
Pedro termina seu discurso afirmando: “Saiba, portanto, com certeza, todo o povo israelita: Deus o constituiu Senhor e Cristo, este Jesus a quem vós crucificastes” [1]. Dito isso, os ouvintes, atentos à pregação de Pedro, o interrompem: “Irmãos, que devemos fazer?” [2]. São Lucas, redigindo o seu relato, pretende interromper o discurso de Pedro para mostrar os efeitos do milagre de Pentecostes: os ouvintes entenderam a mensagem e querem responder com a ação imediata. Pedro, de fato, se prendia aos ouvintes, enquanto falava de Jesus estabelecia um paralelo entre a vida d’Ele e a deles, entre a pessoa do Salvador e a sua fé n’Ele (conferir 2,22s.32s.36s). Os ouvintes entenderam a firmeza de Pedro em demonstrar a messianidade de Jesus e também a gravidade de sua culpa que, reconhecendo a verdade, confessam o próprio pecado e passam da convicção ao ato prático, perguntando: “que devemos fazer?”
Percebe-se que, naquele momento do discurso, o povo já se convencera e estava disposto à conversão. Pedro, atento à sua pregação, pode ler o interior do ouvinte e, de pronto, deu a conclusão missionária da exortação, conclamando a penitência e à conversão.
Posto isso, podemos afirmar que o versículo 37, interrompendo o discurso petrino, possui um valor documental inestimável, informando a reação psicológica e religiosa da multidão, estabelecendo, ao mesmo tempo, uma ligação entre os versículos 36 e 38, dando unidade entre pregação e ouvinte.
DA CONFISSÃO À PENITÊNCIA
A resposta de Pedro “arrependei-vos” [3] está ligada diretamente à acusação diversas vezes repetida por ele àqueles que mataram Jesus de Nazaré, o Messias (vv. 23.36). Com a constatação da reação do povo no v. 37, Pedro passa da acusação à penitência. Trata-se, agora, de renegar o passado da ignorância e de se entregar ao arrependimento, mudando sua conduta de vida com respeito ao Messias, de se abrirem à possibilidade de participar da salvação de Deus, antes anunciada e agora dada e posta à disposição de todos.
A estreita relação entre penitência e remissão dos pecados é muito íntima. A remissão dos pecados é dom de Deus, dado a quem está arrependido (At 26,18); a penitência é a condição para a remissão dos pecados (cf. 8,22; Lc 7,47s) e a remissão dos pecados é o objetivo da penitência (cf. Lc 24,47; At 2,38; 3,19). São Lucas desenvolve o tema penitência-remissão como uma manifestação do amor de Deus e que, no Pentecostes, acontece a resposta pela adesão dos ouvintes. “Lucas, portanto, acentua muito em seus escritos o aspecto moral da metanóia, insistindo na sua função propedêutica. Para Lucas a penitência é o primeiro ato, por parte do homem, no processo da conversão, ao qual, na economia atual, deve seguir-se, em segundo lugar, o batismo. A este duplo ato do homem corresponde um duplo dom por parte de Deus: a remissão dos pecados e o dom do Espírito. É, no entanto, absolutamente gratuito apresentar estes elementos de tal modo que à penitência corresponda necessariamente a remissão dos pecados e ao Batismo o dom do Espírito” [4] .
BATISMO, NOVO PENTECOSTES
O Batismo é colocado em relação ao Pentecostes e dele nasce o sentido e a eficácia da conversão. No Pentecostes, a efusão do Espirito Santo tem seu significado e sua eficácia, preliminarmente sobre os Apóstolos, e depois sobre a efusão na comunidade como meio de salvação pelo Batismo. São Lucas retrata a relação ente batismo e o dom do Espírito Santo, não só em At 2,38, mas também em 10, 4ss; 11,15; 15,8, como em 8,15.17ss e 19,2-6 que, numa visão global, assume valor redentor emergente da manifestação do Espírito Santo que suscita a conversão. Por isso, remissão dos pecados e dom do Espírito Santo são dons messiânicos, como podemos entender que em At 2 existe uma relação íntima entre Jesus que tira os pecados e o Espírito Santo como dom (At,2,38). Estes dois presentes são complementares entre si: exige-se e se completam mutuamente pela participação dos ouvintes.
Quem é batizado torna-se partícipe da divindade em Cristo, sendo exaltado pela ressureição que está presente na Igreja. Por isso, com o batismo se dá ao fiel uma participação direta e imediata na salvação, que, em Pentecostes é confirmada numa dimensão universal. Nele reside o fato agregado a toda a comunidade da nova Igreja. Este é o acontecimento marcante do caráter da salvação messiânica que agora se realiza pelo anúncio e pela adesão da comunidade. É um evento atribuído diretamente à obra de Deus, não só pela sua ação, mas pela participação da grande assembleia messiânica e escatológica que acompanha o universal chamamento divino, como pela explícita afirmação de Lucas em At 2,47, pois o Senhor aumentava diariamente o numero daqueles que se aproximavam da salvação (cf. At 2,41).
O último evento anunciado no Pentecostes é a participação na salvação que se resume em penitência, batismo, remissão dos pecados e dom do Espírito Santo, pois nele está a história de Jesus, dos Apóstolos e da assembleia.
Fonte: Zenit